O homem da colmeia

O HOMEM DA COLMEIA

A TEIMOSIA, A IRRITABILIDADE E O MEL

Encontramos de tudo nesta vida. Ouvimos frases como: você ainda não viu nada! Bem, temos um vizinho que resolveu ter um “animalzinho” de estimação bem curioso. Um não, centenas: adivinhe. Abelhas. O Zé Luís tem canarinhos, a Joice tem uma tartaruguinha, a Maria Amélia alguns gatinhos. Imagine ter abelhas como bichinho de estimação!

Foi assim: passando perto de um dos nossos vizinhos, nos deparamos com uma colmeia. Por que não abelhas de estimação? Afinal, as metáforas sobre as abelhas são tão grandes, que precisaríamos de páginas e páginas para contá-las. Somente por curiosidade, Napoleão mandou bordar em seu manto a imagem da abelha, pela doçura, sabedoria e pelo ferrão.

Ficamos sabendo da história da colmeia, que merece ser retratada aqui. Nosso vizinho foi convidado para ir para uma pescaria. Tinha ido pescar e não pegara nenhum peixe. Viagem longa, cansativa. E os amigos caçoavam. De repente viu no tronco de uma árvore seca de uma floresta na beira do rio, uma colmeia. Não teve dúvidas, resolveu levá-la para casa. Menos vergonhoso que comprar peixes na peixaria de sempre. Resolver encarar a situação. Os amigos da pescaria se divertiram com a história:

-Este é um verdadeiro pescador. Peixe não pesca, mas pescou uma colmeia.

Na verdade, queria apenas levar alguma coisa para casa, na ausência de peixes, abelhas, na falta de saco de peixes, a caixa da colmeia.

Todos ficaram curiosos com sua “mercadoria”; um dos filhos até caçoou do pai e brincou:

– Veja, os peixes do “nosso pescador” são voadores. Não tem espinhos, tem ferrões. Pai o que você vai fazer agora?

Levou ao quintal seu tesouro da viagem. Cuidou das abelhas e foi pesquisar. Uma das filhas vendo-o ler desesperadamente, olhou para o pai ávido de conselhos sobre as abelhas, disse:

– Vai na Internet, tem tudo.

Ele aprendeu a navegar na trilha das abelhas. Até fez amizade com o Amadeu, amigo do Pe. Edmundo, que era o “papa” em abelhas, flores, zangões e rainhas. Cuidou do jeito que aprendeu nos livros, na Internet, perguntando para cada um que sabia alguma coisa a respeito do assunto. Algum tempo depois começou a ficar irritado e ameaçava a colmeia inteira. O mel que ele tanto queria, nada de aparecer. Até já prometera potinhos a alguns amigos. Estava totalmente decepcionado.

A vizinhança viu que a colmeia o havia deixado fora do normal. Fazia semanas e semanas que estava cuidando daquela empreitada. Não era profissional e a única coisa que se via era a grande quantidade de abelhas, mais o mel mesmo, nem sonhar.

A gente, tantas vezes, projeta nossas habilidades nos nossos jardins (e não chove no dia certo); nos rumos de nossa carreira (e não vem a esperada promoção) e mesmo em nossos filhos (que sempre almejamos mais do que eles podem). Queremos que o universo sirva nossas vaidades. Por vezes o universo conspira a nosso favor; por vezes, pode até nos atrapalhar.

Muitas vezes insistimos muito numa teimosia que achamos que vai dar certo, mas devemos ser humildes e também entender que nem sempre podemos mudar o mundo. Temos que repensar nossas atitudes. Se não podemos ter o mel das abelhas, talvez possamos adoçar nosso coração, para compensar o amargor da vida. Devemos lutar sempre e ter esperança, mas lidar com a possibilidade que nem todos os nossos sonhos se realizam. E agradecer a bondade Divina que tantas coisas que nunca sonhamos se realizam gratuitamente em nossa vida.

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita) , doutor em filosofia e teologia

Prof. João H. Hansen, doutor em ciências da religião