O GOVERNO E O PADRÃO FIFA

NEOLOGOLISMOS

O GOVERNO E O PADRÃO FIFA

 

Concentrados na sinopse do filme que queríamos assistir, fomos assaltados por uma conversa bem curiosa. Na fila do cinema, duas pessoas conversavam e como falavam um pouco mais alto do que o normal, foi impossível não seguir a conversa. Impossível e bem divertido. Eram dois senhores de meia idade que falavam de sua família, quando um deles, brincando, perguntou ao outro:

– Sua filha vai casar com o “padrão fifa”?

– Fifa? Em casa não tem casamento Fifa, não. Nada disso, nós trabalhamos e somos bem honestos. Vai ser um casamento normal, com as nossas posses.

– Você se recorda que a Presidenta disse que o governo dela era “padrão fifa”?

– “Tá” aí, meu amigo, agora você “tá” entendendo o que é padrão fifa.  Padrão fifa é esbanjar dinheiro público, abandonar as necessidades sociais e ainda “propinar”.

– Escancarou o padrão fifa: mensalão, petrolão, metrosão, supersalários e, claro, Fifa. – Os estádios eram padrão fifa. Coisas de estarrecer. Tudo em função do tal Padrão Fifa.

– De fato, para este pessoal ser preso na Suíça tem que ser coisa muito ruim mesmo. Sem padrão de qualidade, antes corrupção de qualidade.

Eis o neologismo:  “padrão fifa, mensalão, supersalários, petróleo”, neologismos para um único termo: corrupção, com outros sinônimos, como falta de ética,  carência de vergonha.

Em verdade, “padrão fifa”, hoje, podemos colocar como adjetivo que significa superfaturamento, propina, dívida e prisão. A prática deteriorou o neologismo, pois o padrão fifa se tornou a pior coisa que existe. O mundo literário renovou o conceito; como o nome de certos homens públicos que se tornaram sinônimo de roubar.

Nestes últimos dias o que mais vimos na mídia (televisão, jornais, revistas, internet) foi o caso da Fifa. Tudo no Brasil foi rotulado como Padrão Fifa. Agora é sinônimo de falta de qualidade, desonestidade e corrupção.

Trata-se agora de um tribunal internacional,  onde o “habeas corpus” não é uma carta-coringa entre amigos. Foi exemplar o que sucedeu com a Fifa. Esperamos que brotem mais prisões, sem aconchavos e troca de favores. Pensando bem, fazer uma Copa nos países onde a corrupção  é uma endemia generalizada é um passo para a corrupção.

São países onde se tem muita corrupção e tudo é superfaturado. Ora, temos países que suportam receber milhares de pessoas, pois tem um padrão elevado de vida, não é necessário levantar novos estádios de futebol de bilhões de reais, que depois caem no ostracismo. São vários estádios no Brasil. Estradas, aeroportos e tantas construções  inacabadas. Onde foi parar o Padrão Fifa? No lixo da corrupção, como tantos nomes de corruptores.

Os hospitais, que o povo clama, estão enterrados nos estádios, nas dívidas e no governo, todos padrão Fifa. Sem contar a educação, a segurança pública e a educação. Padrão Fifa. Nunca o Brasil teve tanto como agora, tudo é padrão Fifa, a marca virou ironia, virou piada da Internet.  Nunca a saúde esteve tão mal. É mais fácil fazer estádios e memoriais que escolas e hospitais.

Assim mesmo, nossos governantes fazem para si edifícios de mármore e luxo, e deixam os serviços públicos como galpões vergonhosos. E depois fazem publicidades mentirosas e novas promessas. Serão ricos em poucos anos e mal afamados para sempre. Vergonha para suas famílias, vivendo da riqueza da iniquidade. Governo virou "padrão fifa " e padrão fifa tornou-se o neologismo da desonestidade.  Se um governante  enriquecer rapidamente,  entrará logo no padrão Fifa. Tome cuidado;  a palavra agora é terrível.  Se um político nasceu pobre, brincou na juventude com você e hoje está podre de rico, pode ter certeza, está podre de alma, perdeu a dignidade.

Como disse aquele senhor da fila de cinema:

– Na minha casa, o casamento vai ser honesto. Não vou gastar, para depois ter que roubar para pagar. Não quero padrão Fifa, quero minha dignidade.

Que ironia! Ainda bem que tem pessoas maravilhosas no mundo que tem o selo garantido de honestidade.  Do  “padrão fifa” estamos cansados.

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita) , doutor em filosofia e teologia

Prof. João H. Hansen, doutor em ciências da religião