A DELICADA ARTE DE CRITICAR

A DELICADA ARTE DE CRITICAR

AS CORREÇÕES NA AULA DE PINTURA

 

 

Outro dia, durante uma aula de pintura, chegou uma pessoa que nunca havia pintado na vida. Ela estava apenas querendo pintar, aliviar seu estresse. Assim, procurava fazer alguma coisa que a agradasse. Procurava um hobby para aliviar as correrias e o trabalho da vida.

No final da aula, com a ajuda de todos os alunos e do professor, ela conseguiu deixar seu quadro com seus esboços iniciais bem começados. Na aula seguinte continuaria seu aprendizado.

Uma semana depois, chegaram algumas pessoas e olharam os quadros. Na vida nunca devemos omitir opiniões sem antes saber das histórias de cada um. Lembro-me de um aluno deficiente físico que tinha uma dificuldade imensa de levantar-se da carteira e um dia um professor pediu-lhe que viesse à frente para fazer alguma coisa na lousa. Ele obedeceu e o professor quase chorou ao vê-lo quase se arrastando para seu lugar. Pediu desculpas ao aluno, pois nunca tinha reparado que era deficiente. Ficou com a cena na memória. De fato, não o ofendeu, mas poderia ter impedido que ele passasse esse vexame diante dos colegas.

 Assim foi também o senhor da pintura. Apareceu do nada e olhando o quadro com o esboço feito e sem saber da dificuldade de quem havia começado a fazer sua primeira pintura, disse:

Nossa que horror, que coisa mal feita.

Não está ruim. A mim me agrada – disse gentilmente a Oneide do Tenente Willians.

Claro que está – insistiu o senhor – quem foi que fez isso?

Não quero lhe ofender, Senhor. Come é mesmo seu nome?  interveio a Ineide, que gosta de falar sorrindo e iluminando os olhos.

Mas esta canoa parece uma banana.

Ainda que fosse uma banana, está bonito de se ver –  socorreu a Dorotéa,, que pintava umas lindas papoulas.

Está mais bonito que minha "caipira no galinheiro", insistiu a Oneide.

Eu mesmo queria pintar assim  – disse a Mercedes.

Acho que vai ficar melhor que minhas papoulas, disse a Fátima.

Infelizmente o dono do quadro estava perto e apenas perguntou para o senhor que havia criticado o início da sua obra:

Acha que o pintor nem deve terminá-lo?

Eu se fosse o dono do quadro jogaria fora.

O dono do quadro olhou para as pessoas que estavam lá, ficou triste, pegou o quadro e  jogou no lixo e foi saindo. Via-se a tristeza nos olhos da Lurdinha.

O “crítico de arte” ficou envergonhado e saiu sem olhar para ninguém.

Foi quando o professor chegou e ficou sabendo o que havia ocorrido e falou para todos:

– Se não podemos falar coisas boas, melhor não falarmos nada. Erramos todas as horas, mas jamais podemos ofender alguém.

O professor conseguiu fazer com que o aluno voltasse para as aulas, o argumento foi simples:

Van Gogh, em vida,  vendeu um único quadro. Foi criticado a vida inteira e  apenas seu irmão Theo  o apoiava. É bem provável que ouviu coisas piores do que você. Aprenda e cresça com as críticas, importa ser bom e fazer coisas boas. Como dizia Santo  Agostinho: "ama e faz o que queres"

Não podemos nunca diminuir o trabalho do outro, realmente se não temos como elogiar, também não devemos criticar. A crítica negativa faz mal ao coração, nos deixa triste, a crítica positiva nos faz bem, diz que precisamos melhorar, partindo do bem que fizemos.  É como a música, tente lembrar a primeira vez que aprendeu violão. Certamente teve um professor que começou a ensinar pacientemente. Mesmo as críticas devem ser fecundadas no estímulo. Elogiar, leva o outro a aprender.

Não se trata de calar-se diante das injustiças. É preciso ser corajoso, mas críticas sempre teremos, sempre faremos, mas precisamos pensar nos sentimentos dos outros  antes de emitir um juízo sobre um trabalho de arte. Muitos não vêm o que o coração do autor fez e muitos não entendem que fará alguém triste se emitir um julgamento sumário. De longe, a Cybele que preparava seus quitudes sorria feliz. Estamos aprendendo a viver. 

 

 

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia

 

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